Quem somos:

Valinhos, SP, Brazil
Eu sou consultor de TI e a Walquíria, professora. O meu hobby é o tiro esportivo e o dela, a leitura. O nosso é o motociclismo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um dia que prometia ser fácil. Mas...

O mal: deserto O bom: ainda não tem radar
O plano era ¨sencillo¨ - simples em português: Percorrer o caminho entre Neuquén até Bariloche por estradas verdes e bonitas. Levantei cedo e no apart-hotel que ficamos tinha até um espaço onde eu pude lavar a moto. Tudo caminhava bem até que ao fazer as malas me dei conta de que havia perdido em algum lugar pelo caminho um dos comunicadores de reserva e isso já me deixou bastante contrariado. Mas seguindo os planos, tomamos café da manhã e nos preparamos para sair. Como em princípio não teríamos que rodar mais do que 400 e poucos kilometros, não nos preocupamos muito em deixar o hotel cedo. Por volta das 10:00 hs. estávamos prontos e de saída quando a primeira má notícia chegou: O Sr. Alfredo, dono do hotel, se aproximou e nos perguntou aonde iríamos. - Bariloche, contestei. Ele explicou então que muitos não estavam indo a Bariloche porque no caminho, de 400 kilometros, não havia combustível. Assim se nossa moto não tivesse autonomia suficiente, não seria possível alcançarmos aquela cidade. Perguntei a ele se havia algum caminho alternativo já com o mapa na mão. Ele nos disse que se fossemos por San Martín de Los Andes não iríamos ter problemas pois no caminho haveria várias cidades e nelas haveria combustível. Apenas recomendou que a cada cidade que víamos completássemos o tanque. Disse ainda que por San Martín passaríamos pelo caminho dos 7 lagos que era muito bonito. Eu ainda o questionei dizendo que no mapa aparecia, naquele trajeto, uma parte da estrada que não era asfaltada.
Parada inesperada e necessária
Ele terminou dizendo que a estrada era curta e que também vinha sendo bem mantida - logo isso não seria problema para nós. Rota refeita, saímos do hotel ainda com a esperança de termos um caminho prazeiroso e como rumávamos para as montanhas, numa temperatura agradável. Não demorou muito e percebemos que a coisa não era tão fácil. De novo estávamos rodando por paisagens desérticas em estradas com retas intermináveis e a temperatura em elevação. De fato o combustível naquele trajeto não foi problema. Mas outra vez nos vimos na situação do dia anterior ou seja, muito calor e deserto o tempo todo. Para ajudar, errei o caminho quando na cidade de Zapala peguei uma outra estrada no sentido oposto ao da cidade de San Martin de Los Andes.  Depois de mais de 50 Kms. rodados e desconfiando do motivo pelo qual não apareciam placas indicando a distância até San Martín, parei num posto e perguntei a direção para a cidade. O frentista nos indicou o caminho reverso de onde vínhamos e na cidade de Zapala era só pegar a estrada correta. Voltamos então todo o caminho percorrido desde Zapala e de lá, após abastecimento, seguimos agora sim, pelo caminho correto até San Martin. Até aquele momento havíamos percorrido por volta de 260 kms. desde a saída do hotel. Até San Martin ainda seriam outros 180.
Cansada. Mas guerreira até o fim.
E até Bariloche, mais 208 Kms. Mas o pior ainda estava por vir. No caminho entre Zapala e San Martin, de novo deserto. Somado ao calor, agora eu sentia também um sono acachapante. Tenho certeza de que em alguns trechos foi o anjo da guarda ( meu ou da Walquíria?? ) que pilotou a moto porque eu simplesmente, por alguns segundos, apagava. E o que desesperava era que não havía um lugar onde parar e cochilar.
Isso não é areia. São cinzas do vulcão puyehue
 Até que chegamos a um posto abandonado no meio do nada em que pude estacionar a moto na sombra e sentar no chão para uma cochilada de uns 20 minutos. Isso fez toda a diferença pois dali em frente, a viagem foi outra. Ainda que continuássemos por deserto, a paisagem  começava a mudar um pouco pois vales imensos começaram a aparecer. Por volta das 17:00 hs. e 500 Kms. rodados, chegamos em Junin de Los Andes onde comemos um sanduiche de presunto e queijo com suco e muita água. Seguimos então para San Martin a 40 Kms de distância. Ao chegar a San Martin, cidade muito bonita e onde realmente começaria o caminho dos 7 lagos, nos demos conta de que ainda faltavam 223 Kms. para Bariloche. Tínhamos a nosso favor o fato de que nessa região tem anoitecido por volta das 21:30 - logo tínhamos ainda bastante tempo de luz do dia. Começamos então o trecho final para Bariloche.
 O caminho é realmente lindo com lagos aparecendo no meio das montanhas e estávamos já quase nos sentindo recompensados pelo caminho percorrido até aquelas belas paisagens quando entramos na estrada sem asfalto. Houve momento do percurso que a estrada se tornava muito estreita e chegávamos a pensar que era o final dela. Mas ela seguia. Duvidei em alguns momentos  se aquilo iria dar mesmo na famosa Bariloche. Mas seguimos. A moto tremia toda, barulho de  pedra (cascalho) batendo embaixo, cuidado estremo no uso dos freios porque se as rodas travassem iríamos para o chão pois a moto escorregava nas pedras. O pó existente é indescritível. Nossas roupas, pretas, ficaram quase brancas de tanta poeira assim como a moto.. Os piores momentos eram quando outros veículos passavam por nós levantando imensa quantidade de pó.

Recompensa pelo duro dia. Linda paisagem.
Paramos um momento para descansar e víamos, durante todo o percurso, uma grande quantidade de areia nas margens da estrada. Mas quando nos fixamos, vimos que não era areia e sim cinzas que caíram e ainda caen diariamente provenientes do vulcão Puyehue que está no Chile bem próximo à essa região. Vimos muitas casas e até hoteis e pousadas abandonadas por conta da quantidade de cinzas. Mas ainda sim, nesta estrada víamos lindas paisagens com seus lagos circundados pelas montanhas. Foram por volta de 50 kms. nesta estrada. Ao final dela, estávamos cansados e muito sujos de poeira - eu a Walquíria e a moto.
Já no asfalto as coisas mudaram para melhor novamente: Lindas paisagens e passamos pela lindíssima cidade de Villa Angostura. É muito bonita com suas casas no estilo europeu e toda margeada por um grande lago. Foi nesse ponto que começou o por do sol ( 21:00 hs ) e as cores do céu misturadas com as da cidade e do lago formavam uma paisagem sem igual. No céu também víamos formações bastantes raras de nuvens e cheguei a cogitar a idéia de que não seriam nuvens e sim fumaça expelida pelo vulcão pois tinham formas bastante definidas como redondas e em espirais. Essas nuvens ou fumaça, ajudou ainda mais na beleza da paisagem formada. Esse ¨gran finale¨  valeu por todos os percalços que havíamos passado.
As cores fazem a paisagem parecer uma pintura
 Mas ainda tinha mais... Chegamos a Bariloche por volta de 22:15 e 718 kms rodados bastante cansados e fomos para o hotel. Novamente o hotel reservado pela internet se mostrou inadequado. Era uma pousada porém usada por mochileiros jóvens. O quarto com apenas uma toalha tinha os armários quebrados. Era de aspecto bem negativo. A garagem estava totalmente tomada e arranjaram uma outra sem cobertura a 50 metros do hotel na casa de uma família.. Tomamos banho e fomos dormir. Mas eu já havia resolvido que no dia seguinte iria buscar um outro local para ficarmos em Bariloche. Foi um dia duro mas que a natureza com suas belas paisagens nos recompensou por cada dificuldade passada. Ao final tanto eu quanto a Walquíria tivemos um mesmo pensamento: Foram muito poucos os previlegiados que tiveram a oportunidade e a coragem de ver o que vimos nesse caminho. E nos sentimos plenamente recompensados.

Durante a jornada Bariloche sempre parecia estar longe

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